sábado, 30 de maio de 2009

Sem sentimentos, sem guerra

Tarde de quinta feira, 21.Um homem que aparenta ter 30 anos sobe num ônibus no Rio de Janeiro, e alguns minutos depois senta-se próximo a uma jovem.Anuncia o assalto mostrando a ela uma arma, e está armada a confusão : alguns passageiros perceberam a ação suspeita e avançaram no marginal, desarmando-o e desferindo golpes enquanto ele é imobiliziado por um suposto lutador de Jiu Jitsu.O assaltante consegue se livrar e pula pra fora do ônibus, os caras vão atrás dele, junto com um pessoal que já estava na rua.O homem derruba na calçada um casal de idosos, e aí uma multidão indignada avança pra cima dele e o espanca até os policiais chegarem.Eu vi o vídeo que passou no jornal na hora do almoço, foi uma coisa linda; ainda mais porque a arma que ele carregava era de brinquedo .
Pode parecer uma ação precipitada por parte dos "linxadores", mas é o que vai começar a acontecer todos os dias no Rio em pouco tempo.Quando uma sociedade chega no limite da tolerância à violência, e não pode contar nem mesmo com a polícia, só tem uma entidade capaz de combater o crime : o povo.
Em São Paulo, também aconteceu algo bizarro, que nem foi muito divulgado; um depoimento que um casal deu á polícia durante a madrugada, após um show de pagode : eles estavam voltando pra casa a pé, quando foram abordados por um homem armado, que levou seu dinheiro e celulares.De repente, apareceu um cara mascarado e pulou por cima do assaltante, e em seguida outros dois vultos vieram por trás do casal e imobilizaram o homem.O primeiro mascarado pegou os celulares e devolveu para o casal, depois disse para espalharem que o grupo "Ninjusto" está alí para fazer justiça.Convenhamos, se eu fosse criar um clã de justiceiros, teria escolhido um nome mais decente, mas ainda assim, os caras agiram, fizeram alguma coisa, mesmo que tenha sido uma manifestação isolada, isso não é normal fora dos quadrinhos.
O que ocorre é que morar em cidades muito violentas fica cada vez mais insuportável. As pessoas começam a ter medo de sair de casa, medo de pegar ônibus depois das 20h, medo de perder a vida mesmo cooperando com o assaltante, como foi o caso do posto de gasolina e do cobrador de ônibus, casos de que creio que meus leitores estejam cientes.
Agora, se a polícia não consegue resolver isso, alguém tem que tentar, e muitas vezes esse alguém é o próprio povo, civis que arriscam a vida para lutar pela justiça.Parece banal, parece uma coisa de cinema, mas não dá mais pra ignorar, é o que está acontecendo . Nos EUA teve um caso que ficou famoso, um ex-policial que foi preso por ter comprado um grande arsenal de armas que ele pretendia usar em bandidos foragidos, como já tinha feito antes. Mas isso nos levanta uma questão : justiça com as próprias mãos; sim ou não?
Minha resposta é sim. Não adianta ficar alheio a essa onda de violência que vem crescendo cada ano, não adianta simplesmente se conformar com isso, não vai mudar os fatos. Justiça divina? Que divindade que vai tirar a dor dos filhos daquele cobrador que foi morto por ter feito tudo o que os assaltantes pediram ?Quem vai trazer de volta a mãe do bebê que nasceu prematuro depois que uma bala atravessou o útero daonde ele sairia em pouco tempo, depois do assalto no posto ?
Pois é, não vivemos mais num Brasil onde fazem filmes em homenagens a sequestradores de ônibus (vide o caso do ônibus 174) .Vivemos hoje num Brasil em que o mais ignóbil analfabeto diz "Deveriam ter acertado a cabeça no infeliz quando tiveram chance", referente ao recente caso de Lindembergue Alves.Se não aparecer nenhum Batman nos próximos anos, a coisa vai ficar realmente feia.
Tem quem diga que "usar violência para deter a violência não é a solução",mas há uma diferença entre a violência do criminoso e a violência do justiceiro, e essa diferença se chama propósito. É o propósito que dá sentido às nossas ações .Não tem sentido matar por maldade, mas existe um sentido em combater o crime, e a isso eu atribuo o nome de limpar a sociedade.Eu assisti um filme esses dias chamado Equilibrium.O filme trata de uma sociedade chamada Libria, em uma Terra após uma hipotética terceira guerra mundial, onde o governo atribuiu os fracassos das sociedades passadas e todas as guerras à essência do ser humano, os sentimentos.No filme, todos os cidadãos tomam uma dose diária de uma droga chamada Prozium, que inibe qualquer sentimento, impossibilitando assim de existir o ódio e a raiva; em contrapartida, essa droga também afasta o amor do coração dos homens.Uma vez que é proibido amar, é proibido apreciar obras de arte, ouvir música ou ler, e há uma unidade especializada em caçar pessoas que fazem esse tipo de coisa. É claro que isso passa longe de ser a solução para o mundo, mas dá pra ter uma ideia de até onde os humanos chegariam num futuro não muito distante para impedir que a civilização fosse corrompida pela violência.Temos referências culturais do combate ao crime, como o Superman ou o Batman, mas estes possuem poderes ou tecnologia como arma contra os ladrões, e infelizmente, hoje tudo o que o povo tem é o direito de escolher em quem votar.É claro que, na ficção, ambos os heróis são aclamados pelo povo por zelarem pela segurança, mas você já parou para imaginar como seria se existisse um justiceiro na sua cidade?A polícia iria apoiá-lo ou caçá-lo?E o povo?Não seria legal ver no jornal notícias como "Criminalidade cai 20% depois da aparição dos Ninjustos", ou "Homem Barata prende assaltante", "Mulher Sutiã desarma bomba em delegacia" ?
É o tipo de notícia que eu espero ler nos próximos anos enquanto tomo café da manhã.Mas, enquanto isso, já que não tenho idade para afiar a minha katana, continuo usando como armas apenas as minhas humildes ideias .